Crescer na fazenda, distante da cidade e sem luz elétrica, televisão,
telefone pode não ser um problema se seu pai for um grande contador de
história. A ausência deste aparato tecnológico nos deixava como recurso
criar no imaginário um mundo de possibilidades onde tudo podia
acontecer. Outro ingrediente mágico desse mundo é que ao lado de meu pai
tínhamos uma mulher de grandes sonhos que sempre sonhou com o
conhecimento e que mesmo morando em regiões afastadas de tudo fez da
escola uma realidade obrigatória em minha vida e foram em escolinhas
rurais que eu e meus irmãos tomamos contato com o mundo das letras.
Embora tivesse imaginação em pleno funcionamento sempre achei a
histórias de meu pai mais especiais que os livros, era como se elas me
bastassem e assim cheguei à adolescência e num final de ano tive o
prazer de visitar meus tios em São Paulo e com meus primos ir à praia.
Chegamos à praia acompanhados com a chuva e assim seguiu-se toda a
semana, sem muito o que fazer só me restou explorar o apartamento e para
meu grade espanto deparei-me com muitos livros guardados em um baú,
acredito que o bichinho da leitura estava lá também pois desde aquele
dia os livros fazem parte da minha vida. Embora lendo os mais diversos
gêneros nunca esqueci das história contadas por meu pai e grande foi a
minha surpresa quando um dia caiu em minhas mãos um livro que falava de
um certo João Grilo e suas peripécias, igualzinha as contadas pelo meu
pai. Já se vão mais de vinte anos da morte do meu pai mais ainda faço
minhas viagem literárias acompanhada de seu espírito aventureiro, que
conseguia plantar poesias no cotidiano e transformar uma noite de lua
cheia num grande sarau.
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